Maior estudo genético realizado até o momento identificou 12 variantes de DNA que estão associadas ao risco de tentativa de suicídio
Pesquisadores identificaram 12 variantes de DNA, ou variações no código genético humano, que estão associadas ao risco de tentativa de suicídio em uma análise de mais de 40 mil casos. É o maior estudo genético sobre suicídio até o momento, segundo eles.
O estudo, publicado no American Journal of Psychiatry em 1º de outubro, aponta ligações genéticas entre a tentativa de suicídio e fatores que influenciam a saúde física e comportamental, como impulsividade, tabagismo, dor crônica, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), condições pulmonares e doenças cardíacas.
As descobertas sugerem que algumas das bases genéticas do suicídio são compartilhadas com essas condições.
"Se pudermos usar informações genéticas para caracterizar os riscos de saúde daqueles que tentam suicídio, podemos identificar melhor os pacientes que precisam de contato com o sistema de saúde mental.", diz Anna Docherty, Ph.D., autora correspondente do estudo e professora associada de psiquiatria no Huntsman Mental Health Institute da Universidade de Utah.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma média de 39 pessoas se suicidam por dia no Brasil. Esta é a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.
Os cientistas analisaram dados de 22 populações diferentes em todo o mundo, incluindo pessoas de diferentes origens ancestrais e étnicas, com dados do Million Veteran Program (MVP) e do International Suicide Genetics Consortium (ISGC). Juntos, eles incluem 43.871 tentativas de suicídio documentadas e 915.025 controles correspondentes de ancestralidade.
Eles determinaram que as variantes genéticas ligadas à tentativa de suicídio estão ligadas às variantes genéticas para depressão, doenças cardíacas e outras condições de saúde.
"Mostrou uma sobreposição significativa com condições de saúde mental, mas também muitas condições de saúde física, especialmente para tabagismo e doenças relacionadas aos pulmões. Isso é algo que não podemos necessariamente ver nos prontuários médicos de pessoas que morrem por suicídio.", diz Docherty.
Os resultados, porém, não significam que pessoas com qualquer um desses fatores de saúde tenham alto risco de tentar suicídio, diz Hillary Coon, coautora do estudo e professora de psiquiatria no HMHI. Em vez disso, combinar a predisposição genética com outros estressores —que podem incluir outros fatores de risco genéticos, condições de saúde, circunstâncias de vida ou eventos traumáticos— pode aumentar esse risco, explica ela.
Compreender como o suicídio está relacionado a outras condições de saúde pode abrir portas para novas formas de avaliar e tratar o risco de suicídio, acrescenta Docherty. "Queremos começar a explorar as bases biológicas comuns entre o suicídio e esses fatores de saúde, porque isso levará aos alvos de medicamentos mais convincentes", diz Coon.
O presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Antônio Geraldo da Silva, coordenador da campanha do Setembro Amarelo no país, diz que o estudo reforça as afirmações de que o suicídio parte de uma base genética. "Isso está de acordo com o que defendemos e dizemos em toda a campanha: Não adianta ficar achando que a pessoa se suicidiou só porque o marido traiu ou a família está desajustada. Tem um fator genético por trás que se junta a fatores sociais", diz.
Estudos feitos pela OMS apontam que 90% das mortes por suicídio estão ligadas a transtornos mentais, como depressão, bipolaridade, esquizofrenia, alcoolismo e ansiedade. Especialistas apontam que as razões pelas quais as pessoas tentam suicídio são complexas e incluem gatilhos como trauma e estresse.
"Tem gente que fala que a pessoa escolheu [o suicídio], ela não escolheu. As pessoas valorizam a vida, elas só estão adoecidas", afirma o médico psiquiatra.
Sobre relações do comportamento suicida com doenças cardiovasculares, por exemplo, Silva diz que estudos fazem essa correlação desde os anos 1980, mas ainda é necessário mais pesquisas. "Por isso, na hora a gente vai escolher tratamento para determinados transtornos mentais a gente se preocupa se o remédio tem algo a ver com o coração, mas é tudo muito empírico."
Os cientistas precisarão realizar estudos adicionais para determinar se as variantes afetam diretamente ou indiretamente o risco de suicídio e como isso ocorre. Até agora, a pesquisa mostrou uma associação e não uma relação de causa e efeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário