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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Mulheres com mais de 70 anos correm risco de superdiagnóstico de câncer de mama

 

Estudo mostra que mulheres que se submeteram a mamografias eram mais propensas a ser diagnosticadas com tumores que não representavam ameaça à saúde

Elissa Welle
NOVA YORK | REUTERS

Um novo estudo está levantando questões sobre o valor dos exames de rastreamento do câncer de mama em mulheres mais velhas, descobrindo que as de 70 anos ou mais que se submeteram a mamografias eram mais propensas a ser diagnosticadas com tumores que não representavam ameaça à saúde do que aquelas que não fizeram o exame.

O estudo de pesquisadores da Escola de Medicina de Yale, publicado na segunda-feira (7) na revista Annals of Internal Medicine, acompanhou 54.635 mulheres americanas com 70 anos ou mais que fizeram uma mamografia —um raio-X da mama– em 2002. As mulheres que optaram pelo rastreamento contínuo foram comparadas às que preferiram não ser rastreadas.

Os pesquisadores descobriram que nas mulheres de 70 a 74 anos até 31% dos casos de câncer de mama encontrados entre as que se submeteram a mamografias foram superdiagnosticados —isto é, o diagnóstico de uma condição médica, geralmente por meio de exame de imagem, que de outra forma não teria levado a sintomas ou problemas durante a vida da pessoa.

Técnica em mamografia analisando imagem de exame
Mulheres de 70 anos ou mais que se submeteram a mamografias eram mais propensas a ser diagnosticadas com tumores do que aquelas que não fizeram o exame - ONG Américas Amigas

Conforme a idade aumentava, o mesmo acontecia com os superdiagnósticos, segundo o estudo. Nas mulheres de 74 a 84 anos, esse número saltou para 47% —e para 54% nas com 85 anos ou mais.

O estudo também não encontrou reduções estatisticamente significativas nas mortes por câncer de mama associadas ao exame de rastreamento.

A justificativa para a triagem é detectar uma doença em um estágio precoce, para melhorar as probabilidades de sucesso do tratamento. O superdiagnóstico pode levar a tratamentos desnecessários e aos encargos financeiros e emocionais que os acompanham.

 

Uma preocupação sobre a triagem contínua em mulheres mais velhas é detectar cânceres de mama que nunca apresentariam sintomas, de acordo com a pesquisadora principal do estudo, doutora Ilana Richman, médica de medicina interna da Escola de Medicina de Yale.

"Em certa altura, é improvável que saber sobre o câncer de mama mais cedo faria muita diferença", disse Richman.

A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, um painel de especialistas que faz recomendações sobre medidas preventivas clínicas, recomendou que mulheres de 50 a 74 anos se submetam a rastreamento a cada dois anos. Mas disse que não há evidências suficientes para avaliar os danos e benefícios das mamografias para mulheres com 75 anos ou mais. A força-tarefa está revisando um projeto de recomendação para reduzir para 40 anos a idade inicial para mamografias regulares.

A Sociedade Americana do Câncer recomendou a triagem de mulheres com mais de 55 anos se sua expectativa de vida for superior a 10 anos, enquanto o Colégio Americano de Médicos recomendou a interrupção do rastreamento em mulheres com mais de 74 anos para aquelas cuja expectativa de vida é de 10 anos ou menos.

"É fundamental para as mulheres mais velhas que estão pensando se devem continuar a triagem entender qual é a gama de riscos e benefícios", disse Richman, acrescentando: "Estou interessado em saber o que podemos fazer para ajudar as mulheres a entender suas opções".

Os doutores Otis Brawley e Rohan Ramalingam, oncologistas da Universidade Johns Hopkins, escreveram num editorial que acompanha o estudo que os médicos precisam de novas ferramentas para identificar objetivamente o estágio e a gravidade do câncer.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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