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segunda-feira, 11 de julho de 2022

Aumento de número de armas e de clubes de tiro é assustador em ano eleitoral

 

Não será surpresa se novos atentados, ataques e assassinatos ocorrerem nos próximos meses

Um mês após o extermínio de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari, o brutal assassinato de Marcelo de Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, alvejado com três tiros por um bolsonarista durante sua festa de aniversário, causa enorme indignação e preocupação, embora não surpreenda.

Consequência da ideologia de ódio instalada no país a partir de 2015, estimulada por Bolsonaro, ele é mais um sintoma na escalada de violência política e da barbárie que atinge o Brasil, em uma semana em que uma bomba explodiu em ato com Lula no Rio de Janeiro e em que um projétil perfurou uma janela da Redação da Folha.

Com o clima de intolerância e com o crescente número de pessoas autorizadas a comprar e portar armas, resultado de uma política deliberada de armamento, não será surpresa se novos atentados, ataques violentos e assassinatos ocorrerem nos próximos meses.

O militante petista Marcelo Arruda, guarda municipal em Foz do Iguaçu, foi assassinado
O militante petista Marcelo de Arruda, guarda municipal em Foz do Iguaçu - Reprodução Twitter Gleisi Hoffmann

Dados do Exército, obtidos pelo Instituto Sou da Paz, por meio da Lei de Acesso à Informação, mostrou um enorme crescimento do número de pessoas com licença de colecionador, atirador esportivo e/ou caçadores, os chamados CACs, subterfúgio utilizado por quem quer ser autorizado a comprar e portar armas de fogo e munições.

O número de CACs aumentou 262% entre julho de 2019 e março deste ano, indo de 167,4 mil para 605,3 mil pessoas. Isso significa que, durante o governo Bolsonaro, a cada dia, 449 pessoas obtêm licença para usar armas no país.

Decreto em vigor, assinado pelo presidente em 2021, permite que um grande arsenal de armas e munições possa cair nas mãos dos CACs. Os atiradores podem comprar até 60 armas, sendo 30 de uso restrito, como fuzis, e até 180 mil balas.

Os supostos caçadores (a caça de animais silvestres, com exceção dos exóticos, é proibida no Brasil) podem comprar até 30 armas, 15 delas de uso restrito, e até 6.000 balas anuais. Os colecionadores podem comprar até cinco peças de cada modelo de arma e também 6.000 balas.

É só fazer as contas para verificar o grande arsenal que poderá estar nas mãos dos CACs e dos seus grupos políticos. E, o pior, ele não vem sendo inspecionado. Segundo o Metrópoles, apenas 2,3% dos arsenais privados de armas do país foram fiscalizados pelo Exército, que tem essa responsabilidade, em 2020. Os militares visitaram apenas 7.200 dos 311,9 mil locais que deveriam ter sido inspecionados.

Os 605 mil CACs superam os 357 mil militares da ativa do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e a somatória do efetivo das Polícias Militares, estimado pelo IBGE em 417 mil. A Polícia Militar em São Paulo, a maior do país, tem um contingente de cerca de 81 mil policiais.

No ritmo em que cresce, em breve o número de CACs irá superar o total do contingente das Forças Armadas somado ao das Polícias Militares.

O local de referência dos CACs são os clubes de tiro. Pela legislação federal, os CACs apenas podem portar armas se estiverem se dirigindo aos clubes, onde pessoas comuns aprendem a atirar e onde se estimula e se cultua uma "anticultura" de armas.

Não por acaso, a maior incidência desses estabelecimentos está em estados onde Bolsonaro tem maior adesão, assim como a imensa maioria dos seus frequentadores apoia o presidente.

Os clubes de tiro cresceram 168% desde o início do governo Bolsonaro. Em maio, foram estimados em 2.070, sendo que apenas nos primeiros três meses de 2022 foram abertos 268 clubes, uma média de quase três por dia.

Essa explosão de clubes de tiro tem gerado inúmeros conflitos com a vizinhança. A legislação federal estabelece que eles devem atender às normas de uso e ocupação do solo. Ocorre que a maioria dos municípios não tem regras específicas para esse uso, com exceção do nível do ruído.

Em Santo Augusto, pequena cidade do Rio Grande do Sul, um clube de tiro foi localizado a menos de 300 metros de uma escola, junto a uma comunidade, gerando forte reação de moradores. O problema apenas foi resolvido quando a prefeitura criou norma estabelecendo que os estandes de tiro deveriam estar a uma distância mínima de três quilômetros de qualquer escola.

O caso mais conhecido de conflito ocorreu na zona rural de Brazlândia, no Distrito Federal. Um clube, aberto no final de 2021 vinha causando incômodo, barulho e medo nos moradores do entorno.

O caso foi objeto de uma reportagem comandada pelo repórter Gabriel Luiz, da TV Globo, que denunciou o impacto do clube no entorno. Na cobertura, moradores mostraram que as balas atingiam as casas vizinhas, com furos nas paredes e nas árvores, ocasionadas por tiros que saíam do clube.

Após a reportagem de Gabriel, feita no dia 12 de abril, o clube foi fechado. Dois dias depois, o repórter foi atacado por dois homens em frente à sua casa e sofreu diversas facadas no tórax e no pescoço, tendo corrido risco de vida. Embora nada tenha sido furtado do jornalista, a investigação, feita pela Polícia Civil do DF, não encontrou relação entre os fatos, ou não quis achar...

Neste sábado, em clima eleitoral, ocorreu em Brasília um ato do Proarmas, o maior grupo armamentista do país, que contou com a participação do deputado Eduardo Bolsonaro. O movimento, que defende um liberou geral para a compra e porte de armas, pretende reforçar a bancada da bala no Congresso.

A escalada de violência está instaurada no país e tem forte relação com o armamento da população. Enfrentá-la será mais difícil do que vencer as eleições.

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